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O poder do Caldeirão

Por Matheus Pferl

Noite de Copa

O Caldeirão

São 18 horas de uma terça feira. Fim de expediente. 28 de junho. É inverno, mas o clima é ameno. Bem diferente do que as próximas horas reservam para a parte rubro negra da capital paranaense. Hoje a Arena vai pegar fogo! Tem Athletico x Libertad (Paraguai).

É noite de Copa! Para o torcedor do Athletico, é um dia tenso, especial, daqueles que demoram uma eternidade para passar. Parece que os minutos viram horas, e as horas viram dias. O pensamento já está no jogo. Como o time vai jogar, qual a escalação?

Fui para o jogo com o Eduardo Carcereri, meu amigo de longa data, que é torcedor do clube. Foi ele quem me falou que se eu quisesse falar do Athletico e sua torcida, tinha que ir ao jogo, pois só estando lá pra entender o sentimento... de fato, ele tinha razão. 

E o sentimento para esse jogo era claro: é necessário fazer o resultado em casa, lá no Paraguai vai ser difícil. O time deles é bom, ninguém chega à toa nas oitavas de final da Copa Libertadores da América, é o maior torneio do continente! Vai ser difícil, mas se o Athletico conseguir um bom resultado hoje, por menor que seja, se conseguir levar uma vantagem pra casa deles, dá pra passar, e para o torcedor, passar... seria um sonho! O Athletico não passa das oitavas de final desde 2005. Já faz muito tempo. 

Acho que é bom chegar cedo, hoje é jogo grande, estádio lotado, não quero perder o começo do jogo. E assim, com muita ânsia para esse momento chegar, ele chega. As longas horas de espera se acabam, e começa o jogo. Agora sou um no meio de 27.567 torcedores presentes na Arena.

A festa é linda, o estádio está cheio, e todos estão na mesma sintonia empurrando o time em busca da vitória. O grito das arquibancadas é fundamental, vai dizer que não? Essa caveira ali, meu filho, que canta atrás do gol, intimida qualquer um! Tô errado? (é melhor não discordar...)

Logo no início, aos 6 minutos de jogo, o grito que estava preso na garganta desde o momento em que o torcedor despertou, é colocado pra fora com toda a vontade do mundo, pra todo mundo ouvir. É GOOOOOOOOLl! Agora ninguém segura. Festa absoluta no estádio e a torcida não para, canta o tempo inteiro.

"Pra esse jogo eu vim com minha camisa da sorte", afirma Eduardo.

Para ele, estar nas arquibancadas não é rotina. Apesar de seu pai ser atleticano, ele não é da turma que é fã de ir ao estádio. Prefere torcer de casa. "Mas também, eu sou pé quente, todo jogo que eu consigo vir ao estádio, o time ganha, não tem jeito. Pode comemorar, pessoal, hoje é tudo nosso", ressalta. 

Ainda estamos no primeiro tempo do primeiro jogo das oitavas de final, mas o torcedor já começa a projetar quem será o adversário das quartas de final. Será o Fortaleza ou o Estudiantes de La Plata? Refletindo aqui, talvez seja melhor o Fortaleza, apesar de ser um time brasileiro, que já é acostumado a jogar com o Athletico, isso vale para os dois lados. Ou talvez seja melhor os argentinos, que não estão acostumados com esse confronto, e vão sentir o peso da arena da baixada?

Nesse momento, tudo é festa. O time está bem, já fez um gol e as oportunidades para o segundo estão aparecendo. O torcedor não é, e nem precisa ser racional. Futebol é paixão, é sentimento, é algo inexplicável. Você simplesmente sente.

Mas como num bom roteiro de filme, sempre há o momento em que as coisas parecem sair do controle. O time adversário melhora, começa a criar oportunidades de gol, e de repente... é gol deles. Um banho de água fria. O otimismo e certeza da vitória dão lugar ao nervosismo e à apreensão. Surge um desabafo: "Meu deus, será que vamos cair de novo nas oitavas? Não é possível, nosso time é bom".

Por incrível que pareça, na hora do gol adversário, é o momento em que a torcida mais canta. É um golpe para o time, sofrer um gol... E a torcida sabe que nessa hora, a energia tem que vir da arquibancada. A equipe não pode desmoronar, tem que se reerguer. Vem um grito da arquibancada: "Não vamos deixar o time cair, vamo lá, rapaziada".

Bom, parece que esse apoio deu resultado, e não demorou muito. Doze minutos depois, a equipe não jogava bem, mas a torcida, apesar de impaciente, empurrava o time. Em um cruzamento da direita, a bola passa por todo mundo, menos pelo zagueiro Nicolás Hernández, que desvia para o fundo das redes e devolve a alegria e ilusão para o torcedor.

Outro grito surge de perto: "Agora sim, vamo que cabe mais!".

O zagueiro, apesar de ser estrangeiro, já entende bem o que representa vestir a camisa do Athletico. Um herói improvável, mas assim é o futebol, feito de histórias incríveis e heróis improváveis. Às vezes o final é feliz, às vezes o final é triste, mas isso faz parte, esse esporte é apaixonante. Espero que pelo menos hoje o final seja feliz, depois a gente vê. E como o futebol é maluco... as coisas mudam em pouco tempo, é um esporte realmente imprevisível.

E assim se vai o primeiro tempo. E que primeiro tempo, hein? Capaz de proporcionar sentimentos tão adversos em tão pouco tempo... isso é futebol. 

O segundo tempo foi um jogo parecido, equilibrado, com chances para os dois lados. O adversário é cascudo, tá acostumado a esse tipo de jogo. Apesar da pressão ser grande, eles sabem lidar com isso. Poderia sair mais um gol para o Athletico e a vantagem ser maior, mas o adversário também criou boas oportunidades e poderia ter levado um resultado de empate para casa.

No fim, o resultado permaneceu mesmo em 2x1 para o furacão. E o show foi regido pela torcida, que não parou de cantar. E no momento mais difícil, mostrou que está ali, na boa e na ruim, pelo time.

Questionei o Eduardo, que foi comigo ao jogo, sobre o fato da torcida cantar mais na hora que o time tomou o gol, ele responde: "A gente tenta passar a mensagem de que a gente tá junto, esses caras não podem vir aqui e ficar à vontade: Escuta aqui, meu time, tomar um gol faz parte, acontece. Vamo lá, a gente vai fazer mais um! Tamo junto, viu? Vamos mostrar pra esses caras do que é feito o caldeirão. Vamo pra cima!", ressalta meu amigo, já empolgado com a vitória e umas cervejas.

Essa foi a mensagem na hora mais difícil da partida. E vai dizer pro torcedor que ele não faz a diferença?

E assim foi mais uma daquelas noites marcantes que o futebol nos proporciona. Uma noite que leva o torcedor aos mais diversos sentimentos, da euforia à desilusão, da confiança à incerteza. Uma noite mágica, uma noite de copa. 

Clube e torcida... uma conexão única que é difícil de explicar. De onde surge essa paixão? Vem de família? Como se constrói esse laço? Cada clube tem suas particularidades, sua torcida singular. Uns mais fanáticos que outros. Uns mais loucos, outros mais calmos, mais confiantes, talvez. No clube Athletico Paranaense, essa relação é forte. Seu estádio é conhecido por ser um dos ambientes mais ásperos do futebol brasileiro. A torcida joga junto, a arquibancada é perto do campo, a arquitetura do estádio favorece um ambiente de pressão. Essa fama é espalhada pelo Brasil inteiro, por jogadores, tanto por aqueles que têm o privilégio de jogar no clube quanto por aqueles que têm a árdua missão de jogar contra. Tanto por árbitros, quanto pela mídia, ou por aqueles que trabalham para que o evento aconteça. Todos têm essa percepção que chama a atenção: é um estádio imponente, um mando de campo forte.

Viemos de dois anos atípicos, sem a presença do torcedor nas arquibancadas. Será que ausência desse apoio, desse ambiente fervoroso, influenciou no desempenho do clube? Será que os resultados poderiam ser melhores? Além de trazer os números desse período, temos que ouvir os especialistas, aqueles que vivem isso dentro de campo ou fora dele. Aqueles que fazem do esporte sua vida, seja jogando, transmitindo, ou trabalhando para que o desempenho dos atletas seja maior a cada dia. E por que não, ouvir a própria torcida? Existe gente com mais propriedade para falar disso do que aqueles que fazem esse ambiente? Do que aqueles que vivem essa paixão com o clube?

E como falar sobre o Athletico sem ir ao estádio, sem sentir esse ambiente? Impossível. E nada mais especial do que ir em um jogo de copa, de mata-mata. É ápice do futebol, são as noites mais mágicas do esporte, quando a emoção toma conta. Para falar sobre a torcida, sobre o time, é preciso estar lá, viver essa atmosfera.

Fotos: Matheus Pferl

Qual o peso da torcida em uma partida de futebol? Seu apoio faz a diferença?
Várias pessoas que pertencem ao meio do futebol já falaram publicamente de como é difícil enfrentar o Athletico Paranaense em seu estádio. Leonardo Moura, hoje ex-atleta de futebol que  jogou por grandes clubes como Flamengo e Grêmio, citou em uma participação no programa "Bem amigos" do Sportv, o estádio do Athlético como o
mais difícil de jogar contra. Já o ex-jogador Vampeta, pentacampeão do mundo com a seleção brasileira em 2002 e ídolo do Corinthians, também citou o Athletico e sua torcida como um ambiente muito difícil de enfrentar.

E a dificuldade de campo não fica restrita aos jogadores, o árbitro Marcelo de Lima Henrique, após ser perguntado sobre os estádios mais difíceis de apitar, citou a Arena da Baixada, pela pressão da torcida e pelo  ambiente áspero que é criado em dias de jogos. Em 2021, o Athletico enfrentou o Atlético Mineiro na final da Copa do Brasil, e a festa da torcida impressionou e foi destacada pelos comentaristas da emissora Jovem Pan. Em uma visita recente, o jornalista Eric Faria, que faz a cobertura das equipes do Rio de Janeiro, ressaltou a dificuldade de o time do Flamengo desempenhar um bom papel atuando na Arena da Baixada. Nessa partida o Flamengo perdeu para o Athletico por 1x0.

Com tantos depoimentos sobre a força da Arena da baixada, vamos analisar um período da história recente do Athletico, de 2018 a 2021. São duas temporadas com o apoio da torcida (2018 e 2019) e duas temporadas sem o torcedor (2020 e 2021). O que dizem os números? Será que houve um impacto significativo no desempenho do clube durante essas temporadas? Podemos creditar isso a ausência da torcida? 

A influência da torcida

TEMPORADA 2018

Desempenho Geral 
 58 jogos:
- 30 vitórias 
- 13 empates 
- 15 derrotas 

Campeonato Brasileiro (7º lugar)

Total 38 jogos: 16V/9E/13D
Em casa 19 jogos: 14V/2E/3D
Fora de casa 19 jogos: 2V/7E/10D

O Athletico terminou o Brasileirão na 7ª colocação, sendo o terceiro melhor mandante da competição (atrás apenas de Palmeiras e Internacional), e apenas o 12º melhor visitante. A equipe fez 57 pontos na competição, sendo 44 em casa (77%) e 13 fora de casa (23%). Foram 54 gols marcados em 38 rodadas, uma média de 1,4 gols por jogo. O artilheiro da equipe foi Marcelo Cirino, com 12 gols, e os maiores garçons da equipe foram Raphael Veiga e Nikão, ambos com 6 assistências. Além disso, foram 37 gols sofridos. 

Desempenho Geral em casa
 29 jogos:
- 20 vitórias 
- 4 empates 
- 5 derrotas 

RESUMO DA TEMPORADA 2018

Na temporada 2018,  77% das vitórias do Athletico foram conquistadas dentro de casa. São 20 das 26 vitórias. Apenas 6 partidas foram vencidas em teritórios inimigos, um número  de 23%.

Desempenho Geral fora
 29 jogos:
- 6 vitórias
- 12 empates
- 11 derrotas.

Copa do Brasil (Eliminado nas oitavas)

Total 8 jogos: 2V/5E/1D
Em casa 4 jogos: 2V/1E/1D
Fora de casa 4 jogos: 4E

O Athletico estreou na competição contra a equipe do Caxias, fora de casa. O empate em zero a zero levou a equipe à próxima fase. Na segunda fase da competição, o adversário foi o Tubarão, na Arena da baixada. O jogo foi muito movimentado e recheado de gols, um 5x4 que levou o Athletico à terceira fase para enfrentar o Ceará. Com dois empates, a decisão foi para os pênaltis, e o Athletico levou a melhor. Na quarta fase, o adversário foi o São Paulo. Com uma vitória e um empate o rubro negro alcançou as oitavas de final. Nessa fase o sorteio não foi generoso com o Athletico, o adversário foi o então campeão da competição, o Cruzeiro. A equipe foi eliminada após uma derrota em casa por 2x1 e um empate em 2x2 no Mineirão. 

Copa Sul-americana (Campeão)

Total 12 jogos: 8V/2E/2D
Em casa 6 jogos: 4V/1E/1D
Fora de casa 6 jogos: 4V/1E/1D

A Copa Sul-americana se tornou o primeiro título internacional do Athletico. Após uma campanha memorável, com vitórias expressivas e uma final de tirar o fôlego, decidida nos pênaltis frente a ótima equipe do Junior Barranquilha (COL) o inédito título veio para a Arena da baixada. Após estrear na competição e vencer a equipe do Newell's Old Boys (ARG), o Athletico enfrentou o penta campeão da Libertadores Peñarol. Na sequência Caracas (VEN), Bahia e Fluminense, foram superados até chegar a final. O Athletico ainda teve o artilheiro da competição, Pablo, com 5 gols. Ele também foi o jogador com o maior número de assistências na competição, com 3 passes para gol. O maior público da competição também pertenceu ao Athletico, com 40.263 pessoas presentes para acompanhar a grande final.

TEMPORADA 2019

Campeonato Brasileiro (5º lugar)

Total 38 jogos: 18V/10E/10D
Em casa 19 jogos: 12V/3E/4D
Fora de casa 19 jogos: 6V/7E/6D

Mantendo a base do time campeão da Sul-americana de 2018 e com alguns reforços pontuais, o Athletico conseguiu fazer um campeonato brasileiro ainda melhor do que na temporada passada. Foram 18 vitórias, 10 empates e 10 derrotas, finalizando a competição em 5º lugar. Além disso, o furacão encerrou a competição com 13 jogos de invencibilidade e apenas uma derrota no segundo turno, para o campeão Flamengo. Foram 51 gols marcados e 32 sofridos, um saldo positivo de 19 gols.

Copa do Brasil (Campeão)

Total 8 jogos: 4V/3E/1D
Em casa 4 jogos: 3V/1E
Fora de casa 4 jogos: 1V/2E/1D

2019 reservou para o torcedor do Athletico um título especial, a Copa do Brasil. De maneira inédita, o furacão trouxe a taça para a Arena da Baixada. Vencendo grandes adversário como Fortaleza, Flamengo, Grêmio e Internacional, a equipe foi campeã de maneira incontestável. Um empate fora e uma vitória magra contra o Fortaleza classificaram o Athletico nas oitavas. Contra o Flamengo, dois empates e classificação nos pênaltis. Contra o Grêmio, uma virada épica dentro de casa e classificação também nos pênaltis. Contra o Internacional, duas vitórias para não deixar dúvidas e carimbar a faixa com as cores rubro negras.  Foram 8 gols marcados, 5 sofridos e um aproveitamento quase perfeito dentro de casa.

Libertadores (Eliminado nas oitavas)

Total 8 jogos: 3V/5D
Em casa 6 jogos: 3V/1D
Fora de casa 6 jogos: 4D

Com o título da Copa Sul-americana, o Athletico voltou para a Libertadores da América. Na fase de grupos, o Athletico caiu no grupo do gigante Boca Juniors, mas fez bonito. Dentro de casa uma vitória acachapante, 3x0. Na Argentina derrota por 2x1. A equipe terminou a primeira fase em segundo lugar, com 3 vitórias e 3 derrotas. No sorteio das oitavas de final, teve novamente o Boca Juniors pela frente, mas dessa vez foi o fim da linha para o Athletico, a equipe foi derrotada em Curitiba e em Buenos Aires.

RESUMO DA TEMPORADA 2019

Desempenho Geral 
 56 jogos:
- 26 vitórias 
- 13 empates
- 17 derrotas 

Desempenho Geral em casa
 28 jogos:
- 19 vitórias
- 4 empates

- 5 derrotas 

Desempenho Geral fora
 28 jogos:
- 7 vitórias
- 9 empates
- 12 derrotas.

Na temporada 2019,  73% das vitórias do Athletico foram conquistadas dentro de casa. Foram 19 das 26 vitórias. Somente em 7 oportunidades, o Athletico venceu fora de casa. Além disso, o Athletico teve a possibilidade de disputar a Recopa Sul-americana, contra o campeão da Libertadores, River Plate. A equipe ficou com o vice-campeonato após uma vitória por 1x0 em casa e derrota por 3x0 na Argentina.

TEMPORADA 2020

Campeonato Brasileiro (9º lugar)

Total 38 jogos: 15V/8E/15D
Em casa 19 jogos: 9V/5E/5D
Fora de casa 19 jogos: 6V/3E/10D

Dessa vez, o Athletico não conseguiu segurar suas principais estrelas do time campeão de 2019. As vendas de Renan Lodi, Bruno Guimarães e a saída de jogadores importantes como Marco Rúben, fizeram com que a equipe caísse de desempenho no Campeonato Brasileiro. Uma campanha um pouco inconsistente e um modesto 9º lugar, Em 38 rodadas foram 38 gols marcados (média de 1 gol por jogo) e 36 gols sofridos (média de quase 1 gol também). O saldo foi de apenas 2 gols positivos. Esse foi o primeiro campeonato sem a presença da torcida.

Copa do Brasil (Eliminado nas oitavas)

Total 2 jogos: 2D
Em casa 1 jogo: 1D
Fora de casa 1 jogo: 1D

Diferente das glórias de 2019, a Copa do Brasil de 2020 não ficará na memória do torcedor. O Athletico caiu já na fase de oitavas de final, contra o Flamengo. Lembrando que a equipe entrou nesta fase, e o adversário foi definido por sorteio. Portanto a equipe fez apenas dois jogos, e foram duas derrotas.

Libertadores (Eliminado nas oitavas)

Total 8 jogos: 3V/2E/3D
Em casa 4 jogos: 2V/2E
Fora de casa 4 jogos: 1V/3D

Após ficar em segundo lugar no grupo C, que tinha Peñarol, Jorge Wilsterman e Colo-Colo, o Athletico deu um grande azar no sorteio e pegou o favorito River Plate. Em casa, empate por 1x1 e na Argentina derrota por 1x0. Apesar de todo o esforço, a equipe caiu fora da competição mais uma vez nas oitavas de final. Foram 9 gols feitos e 8 gols sofridos. A equipe terminou a competição invicta em casa.

RESUMO DA TEMPORADA 2020

Desempenho Geral 
 49 jogos:
- 18 vitórias 
- 10 empates 
- 21 derrotas 

Desempenho Geral em casa
 24 jogos:
- 11 vitórias 
- 7 empates
- 6 derrotas 

Desempenho Geral fora
 24 jogos:
- 7 vitórias
- 3 empates
- 14 derrotas.

Na temporada 2020, o Athletico teve 61% de suas vitórias (11 vitórias) conquistadas dentro de casa e 39% (7 vitórias) em jogos fora de casa. Na abertura da temporada, o Athletico enfrentou o Flamengo em campo neutro, em Brasília. O jogo foi válido pela Supercopa do Brasil. A equipe foi derrotada por 3x0. A temporada de 2020 foi a que o Athletico menos jogou, entre as 4 temporadas analisadas, por conta da precoce eliminação da
Copa do Brasil.

TEMPORADA 2021

Desempenho Geral 
 61 jogos:
- 29 vitórias 
- 11 empates
- 21 derrotas 

Campeonato Brasileiro (14º lugar)

Total 38 jogos: 13V/8E/17D
Em casa 19 jogos: 8V/5E/6D
Fora de casa 19 jogos: 5V/3E/11D

Em 2021 o Athletico teve o seu pior desempenho, entre os anos analisados. A equipe começou bem o campeonato, brigando pela liderança, mas com o passar das rodadas o desempenho caiu bastante, e no fim o furacão terminou apenas no 14º lugar. Mas, parte do desempenho abaixo no campeonato brasileiro se deve ao fato da equipe ter ido longe nas copas. Pelo Brasileirão foram 41 gols marcados e 45 sofridos. Um saldo negativo de 4 gols.

Copa do Brasil (Vice-campeão)

Total 10 jogos: 5V/3E/2D
Em casa 5 jogos: 3V/1E/1D
Fora de casa 5 jogos: 3V/2E/1D

A Copa do Brasil de 2021 não será esquecida tão cedo. A equipe foi vice-campeã perdendo a final para o grande time do ano no Brasil, o Atlético Mineiro, que teve um investimento muito forte para a temporada e era de fato o favorito. Mas a trajetória até a final foi marcante, especialmente com a vitória por 3x0 no Maracanã sobre o favorito Flamengo, uma noite inesquecível. E apesar de perder o título, a festa na Arena da Baixada foi algo que o torcedor não irá esquecer. Ao todo foram 14 gols pró e 12 gols contra. O Athletico chegou na final invicto, mas foi derrotado nos dois últimos jogos.

Copa Sul-americana (Campeão)

Total 13 jogos: 11V/2D
Em casa 6 jogos: 6V
Fora de casa 6 jogos: 4V/2D

Em 2021, o Athletico retornou à competição pela qual se sagrou campeão em 2018, e o retorno não poderia ter sido melhor. Com uma campanha praticamente impecável, o furacão conquistou o Bi-campeonato da Sula. A final foi brasileira, contra a boa equipe do Red Bull Bragantino, que contava com grande investimento para a temporada. A final foi em jogo único, em Montevidéo, no Uruguai. A torcida compareceu em peso e a festa foi completa após o golaço de Nikão, que decretou o 1x0, suficiente para trazer o título novamente para a Arena da Baixada. Foram 11 vitórias e apenas 2 derrotas. Após classificação tranquila na fase grupos, o Athletico enfrentou América de Cali, LDU e Peñarol, e superou todos os desafios. Foram 21 gols marcados e 6 sofridos em 13 jogos.

RESUMO DA TEMPORADA 2021

Desempenho Geral em casa
 30 jogos:
- 17 vitórias 
- 6 empates 
- 7 derrotas 

Desempenho Geral fora
 30 jogos:
- 12 vitórias
- 5 empates
- 14 derrotas.

Na temporada 2021, 58% das vitórias do Athletico foram conquistadas dentro de casa. Foram 17 das 29 vitórias. As outras 12 vitórias foram conquistadas fora de seus domínios, cerca de 42%. Esses são os números mais parelhos que analisamos, será efeito da ausência da torcida? A final da Sul-americana, vencida pelo Athletico, foi em campo neutro.

Os números nos mostram uma queda de desempenho como mandantes nos anos de 2020 e 2021. Em 2018 o Athletico teve 69% de aproveitamento em casa, em 2019 quase 68%. Em 2020, foram 45% e em 2021 56%. Especialmente em 2020, o primeiro ano da pandemia, o desempenho foi bem inferior ao que é de costume, mas é compreensível por ser algo novo. Nunca, na história do futebol, tivemos esse afastamento da torcida e partidas disputadas com o estádio vazio durante um campeonato inteiro. Em 2021, talvez mais acostumado e preparado, o desempenho foi melhor, mas ainda inferior aos anos anteriores. Entretanto, em 2021, o Athletico conseguiu conquistar o título da Sul-americana, e chegar à final da Copa do Brasil. Ambos os jogos decisivos já com a presença da torcida. 

Será que podemos atribuir essa queda de desempenho nos jogos em casa ao fato do torcedor ter ficado afastado das arquibancadas? Vamos ouvir o que os torcedores e especialistas têm a dizer:

Para falar da torcida, nada melhor do que a própria torcida.

Vamos acompanhar agora, algumas histórias que essa relação proporcionou

A caveira, o rock e o Athletico

Kelly Barbosa Finger tem 19 anos, é estudante de jornalismo e fanática pelo Athletico. Suas redes sociais fazem sucesso com os conteúdos que produz sobre o time. Gaúcha, sua família tentou convencê-la a torcer para o Internacional, mas o amor pelo rock e pelo símbolo da caveira, fez com que a paixão pelo time surgisse. Daí pra frente, nada separa Kelly do Athletico. Sempre que pode, está no estádio, e desde 2016 é sócia do clube.

Dentre vários jogos marcantes que acompanhou nas arquibancadas, a final da Sul-americana de 2018 tem um lugar especial, por ser o primeiro título de relevância que presenciou como torcedora. E no seu primeiro jogo como torcedora, em um Athletico x Famengo, Kelly nos conta que torceu para o time errado! Vê se pode? 

O dia em que a torcida chutou o pênalti adversário pra fora

Luiz Eifler é da turma que acompanha o Athletico há muito tempo, é frequentador assíduo da Arena da Baixada e sócio desde 2008. A escolha pelo rubro negro veio naturalmente. Apesar de não ter uma pressão familiar, aos poucos foi indo ao estádio, acompanhando os jogos no rádio, e a paixão pelo clube apareceu. O apoio ao time é incondicional, nos momentos bons e principalmente nos momentos ruins. Dificilmente, algo o tira das arquibancadas. Em sua agenda o compromisso já está marcado: "hoje não dá, é dia de Athletico". 

Luiz lembra da campanha de 2011, que rebaixou o Athletico no Campeonato Brasileiro, da volta para a elite do futebol em 2012 em um jogo maluco contra o América Mineiro, e do ápice em 2018, com o primeiro título internacional da história do clube. Para ele, não há dúvidas, a torcida foi fundamental na conquista.

Depois de 9 anos, Libertadores!

De família atleticana, André Frâncica frequentava o estádio desde muito cedo. Seu avô era quem o levava aos jogos. Seu primeiro jogo foi um Athletico x São Paulo, na recém inaugurada Arena da Baixada. Acompanhar o furacão se tornou um programa em família, seus irmão e tios também compareciam aos jogos. Hoje com o avô não estando mais presente, a tradição segue.

Para André, a torcida exerce um papel fundamental na intimidação ao adversário, especialmente pela arquitetura da Arena, onde o torcedor fica muito perto do campo. Dentre diversos jogos que acompanhou nas arquibancadas, André lembra com carinho do retorno do Athletico a Copa Libertadores da América, em 2014, um jogo que aconteceu na Vila Capanema por conta das reformas na Arena da Baixada para a Copa do Mundo, jogo que foi contra o Sporting Cristal (PER), uma partida dramática que terminou com final feliz. 

Mesmo perdendo o título, a festa foi inesquecível

Nascido em Curitiba, Luiz Afonso é atleticano de berço. Torcedor de arquibancada, Afonso fala com propriedade: a torcida faz a diferença sim! A pressão e atmosfera criados na Arena da Baixada são fundamentais para o clube, que sempre teve um histórico de jogar bem em casa. Para Luiz, a questão psicológica é muito afetada pela presença do torcedor, positiva ou negativamente.

As viagens para acompanhar o time ficaram na memória. Na final da Copa do Brasil de 2021, viveu um momento de tensão antes da partida contra o Atlético Mineiro, onde presenciou um clima muito hostíl na casa do adversário. Para piorar, derrota por 4x0. O jogo de volta foi marcante pela festa da torcida, a maior que já viveu.

A incrível atmosfera da remontada na Copa do Brasil

Jennifer Eduarda é social media e apaixonada pelo Athletico. Aos 22 anos, é socia desde 2018 e não costuma perder nenhum jogo, sempre com a parceria de seu pai, que foi quem a influenciou a torcer pelo clube. Muitos falam do gramado sintético como um fator que desequilibra a favor do furacão, mas para Jennifer, o que faz o Athletico ser forte em casa é a presença da torcida.

Um dos jogos mais incríveis que presenciou foi a partida de volta da semifinal da Copa do Brasil de 2019, contra o Grêmio. Após um revés de 2x0 em Porto alegre, a missão era difícil, mas o Athletico provou que não era impossível. O estádio não estava lotado, mas a atmosfera criada nesse jogo foi algo que Jennifer jamais irá esquecer.


 

Perdi o emprego, mas eu fui pra festa!

Atleticano doente, Victor Leon se sente em casa na arquibancada da Arena da Baixada. Quando mais novo, tentou a carreira de jogador e teve o privilégio de jogar no seu clube de coração, assim como seu pai. Hoje a realidade é fora dos gramados, mas a paixão pelo clube nunca diminuiu. Para ele, a torcida é apaixonante e faz a diferença para o time. O caldeirão já levou o Athletico a buscar vitórias mesmo em situações adversas. Victor acredita que a ausência da torcida afetou o desempenho do Athletico, e lembra da Libertadores de 2020, especialmente no jogo de mata-mata contra o River Plate, onde segundo ele, o resultado poderia ter sido melhor com o estádio cheio. Victor lembra de um Athletico x América MG, pela série B de 2012, um marcante 5x4. E também conta a história de quando largou o emprego para torcer para o Athletico no estádio do rival.

 

E para os profissionais do esporte, como é esse contato
com os torcedores? A torcida faz a diferença?

Vamos acompanhar alguns depoimentos de quem vive isso diariamente

Sem a torcida, é preciso muito mais concentração

Atleta do Vila Nova (GO), o zagueiro Eduardo Doma é profissional de futebol. Aos 24 anos, disputa o campeonato brasileiro da série B. Antes de ir para o time goiano, jogou no Cianorte. Eduardo destaca o trabalho mental que é necessário para estar dentro de campo desempenhando um bom papel, e dentre vários momentos de sua jovem e promissora carreira, alguns jogos o marcaram de uma maneira especial.

Para o atleta, a torcida influencia sim no resultado dentro de campo. A pressão em cima do adversário, a euforia na hora do gol ou a decepção na hora de sofrer um gol é sentido pelos atletas dentro de campo. Eduardo  viveu em campo a pandemia, e conta sobre um jogo contra o Operário de Ponta Grossa, no qual a falta da torcida beneficiou sua equipe. Ele também lembra de um jogo mais recente, contra a equipe do Fluminense, no Maracanã, quando a torcida incendiou o jogo a favor dos donos da casa, que conseguiram o resultado. 

A torcida do Athletico tem a capacidade de empurrar a equipe

O analista de desempenho Pedro Sotero já esteve em várias posições dentro do futebol. Foi treinador e preparador físico, hoje é auxiliar técnico e se especializou na análise de desempenho dos atletas. Atualmente, trabalha em um gigante do futebol brasileiro, o Flamengo. Mas trabalhou muitos anos no Athletico Paranaense e se formou como profissional dentro do clube. Sua relação com o furacão é de muito respeito e gratidão.

Pedro viveu de perto esse convívio com a torcida do Athletico desde cedo. Em 2019, subiu para o time profissional para integrar a equipe técnica do treinador recém promovido, Tiago Nunes. Com ele, venceu a Copa Sul-americana em 2018 e a Copa do Brasil em 2019, além de dois campeonatos estaduais em 2018 e 2019. Pedro acredita que a torcida do Athletico é capaz de influenciar nos resultados dentro de casa, e lembra de dois momentos que viveu quando a torcida foi fundamental para que a equipe conquistasse a vitória.

Como narrador, senti de perto o quanto a torcida faz diferença

Jasson Goulart é jornalista, paranaense, e acompanha a atmosfera das torcidas dos clubes da capital desde muito cedo. O momento em que viveu mais de perto essa relação foi quando trabalhou como narrador esportivo, na RPC. Para ele a torcida faz sim a diferença para o resultado de uma partida e sua ausência influenciou nos resultados desse período de pandemia. Jasson fala do privilégio de ter acompanhado grandes talentos surgindo no Athletico Paranaense.

A torcida não deixou o Dagoberto jogar

Fernando Gomes é cronista esportivo e tem uma longa estrada dentro do jornalismo. Trabalhou na TV Tarobá de Cascavel, na Rede Bandeirantes de São Paulo, na Rictv e há 21 anos trabalha na Rádio Transamérica acompanhando todos os dias as equipes da capital paranaense. Para Fernando a ausência da torcida não afetou o desempenho das equipes. Para ele, o fato de a equipe estar em um momento muito positivo impulsiona a torcida, e o momento atual é de um crescimento esportivo muito grande, mas Fernando levanta uma preocupação em relação a torcida.

Sempre com opiniões fortes e muita personalidade, Fernando cita alguns problemas que já viveu nos estádios com alguns torcedores, mas ressalta que a maioria dos torcedores são educados e tratam a mídia bem. E também fala de um episódio curioso envolvendo o jogador Dagoberto, grande revelação do Athletico na época, e sua saída do clube Athletico Paranaense.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DE JORNALISMO - UNINTER

Reportagem Longform desenvolvida pelo aluno Matheus Santana Pferl com orientação da professora Larissa Drabeski.